Histórias que habitam os muros coloridos de Buenos Aires

Arte de rua na Argentina é mais valorizada que no Brasil

O artista Argentino Alfredo Segatori foi responsável por pintar o maior mural da América do Sul por um único artista

Muro no centro de Buenos Aires. Foto: Larissa Bezerra

O artista plástico venezuelano, Juvenal Ravelo, costuma dizer que “a arte na rua, como o sol, sai para todos.” E é ao som de tango, que o argentino Alfredo Segatori, colore as ruas de Buenos Aires, iluminando os muros e as ruas em um dia nublado.

“É fundamental ter música. Sou um militante a favor da arte em geral no espaço público, não só da pintura”, conta sem deixar o pincel de lado.

Não está nem na metade do mural na avenida Libertador com Bullrich, mas várias pessoas, de todas as idades, passam para observar, felicitar Alfredo e perguntar se as obras dos muros ao lado também são dele, que responde, com um sorriso no rosto, que foi ele quem fez.

O início de Alfredo com o grafite, está totalmente ligado ao Brasil. Apesar de tudo ter começado de maneira muito distinta na Argentina. Ele já se interessava por pintura, mas não havia quase nada na Argentina ainda. Foi ao Brasil, conheceu muito mais sobre a arte e o interesse cresceu. Então, começou para valer e foi um dos pioneiros em seu país.

As pessoas param para olhar e perguntar sobre o trabalho. Foto: Larissa Bezerra

O fundador do projeto Buenos Aires Street Art (www.buenosairesstreetart.com), Matt Fox-Tucker, é ex-jornalista da BBC e do Daily Mail. Ele escreveu “Textura Dos: Buenos Aires Street Art”, que trata sobre a arte de rua da cidade. Matt esclarece que há uma certa diferença entre street art e grafite.

“É comum que os meios de comunicação escrevam que Banksy, por exemplo, é um ‘grafitti artist’ ou é ‘um grafiteiro’ mas ele não pinta letras com aerossol. O brasileiro Eduardo Kobra também não é um grafiteiro.” Para o escritor, o grafite está ligado ao movimento hip hop e, algumas vezes, é pintado ilegalmente. 

Em Buenos Aires, as pessoas não precisam de autorização do governo para colorir os muros, basta que o dono da parede permita. Em uma loja de artigos religiosos, no centro de Buenos Aires, a dona diz que pagou para um artista pintar a fachada. “Sempre gostei muito e queria que fizessem aqui”, conta.

Mas o governo também paga os artistas para que pintem. Alfredo Segatori é autor do maior mural pintado individualmente da América do Sul. O governo que fez a encomenda da pintura, que mede mais de 3 mil metros quadrados. 

Parte do mural recordista de Alfredo. Foto: Divulgação

O artista diz que o tamanho não foi pensado antes. “As pessoas do bairro pediam para que eu continuasse pintando, até que ficou enorme.”

Nem mesmo a vida dele no mundo da arte foi algo planejado. “Algumas coisas na vida que vão levando seu caminho e também têm aquelas nas quais eu me deixei levar, como foi com a arte de rua”, brinca.

Na hora de colocar a mão na massa, a ideia do desenho depende muito do muro, do espaço e de qual o tema a ser abordado. “Penso na ideia, vou fazendo imagens, busco fotos ou eu mesmo tiro, estudo muito visualmente e vejo qual a melhor técnica para aplicar também”, explica Alfredo.

O artista brasileiro Rene Meyring já esteve na Argentina para ministrar workshops. Além das diferenças no uso de materiais, ele também vê certa vantagem dos argentinos. “Primeiro, as pessoas dão muito mais valor na arte e por serem pagos eles podem experimentar mais e evoluir. No Brasil temos que comprar o nosso material”, diz.

Matt Fox-Tucker entende que há muita diferença entre os dois países. No Brasil, muitos são influenciados pelo grafite tradicional, inspirados pelo hip hop. Já em Buenos Aires, muitos artistas de rua são de classe média e não fazem murais relacionados a política, como se vê em países como Chile, México ou Colômbia. Com exceção de 2001. “Haviam várias pessoa tentando se expressar pela situação complicada do país.”

Apesar da arte de rua ser vista com bons olhos na Argentina, Alfredo acredita que ainda é possível ir além. “Tem trabalho, mas poderia ser melhor, talvez em dar mais possibilidade para quem está começando, porém, por sorte, as coisas vão caminhando”, comenta.

Mural pintado por Alfredo Segatori na avenida Libertador. Foto: Larissa Bezerra

LARISSA BEZERRA é estudante de jornalismo e participou do "Jornalismo sem Fronteiras", que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 10 dias no trabalho de correspondente internacional.

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