Entrevista com Paula Carvalho, repórter da revista Bravo!

Na aula de webjornalismo, o professor propôs que entrevistássemos um profissional que trabalha com informação na web, para aprendermos mais sobre o tema e tirar dúvidas em relação ao que aprendemos em aula. Eu falei com a repórter da revista Bravo! Paula Carvalho. Ela é formada pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou como editora da homepage do Estadão e como repórter nas editorias de política e internacional.

Você já trabalhou no Estadão. Lá você fazia matérias para o impresso ou pra internet também? 
Trabalhei lá por 3 anos, mais ou menos. Em 2012 como estagiária e depois de 2013 a 2015 como repórter. Trabalhei basicamente com a edição da home, mas também fazia matérias para o impresso/internet. Mas não era minha função principal. Quando fiz, era meio que um trabalho extra. Exceto quando fui estagiária e passei por várias editorias – aí o trabalho era fazer pautas mesmo. Se tiver interesse em ler alguma coisa, eu costumava juntar nesse clippings

É mais difícil produzir para a web pela possibilidade de ferramentas a serem usadas e por não ser fácil prender a atenção do leitor? Ou a internet só facilitou o fazer jornalístico?
Facilitou – em termos de possibilidades, é indiscutível que a produção fica mais barata e mais democrática (no sentido de que pode ser feita por mais pessoas) na internet. Quanto às ferramentas, penso que isso ajuda a produção, e não atrapalha. E quanto a prender a atenção do leitor, creio que isso pode ser uma ilusão: não há também garantia que a notícia impressa vai ser lida, entende? 
Agora, se com "prender a atenção do leitor" você esteja pensando em audiência, aí sim creio que há uma grande disputa em que todo mundo está perdendo, menos o Facebook, o Google e o Instagram. Acho que sites de mídia hoje em dia não se baseiam mais só em audiência pra se manter. É muito difícil que alguém fique navegando no seu site, né? Todo mundo está navegando nas redes sociais. 
Claro, tem as notícias "caça-cliques", truques do tipo galeria (cada vez que você clica numa foto vale um clique), auto-refresh, etc. E sites usam esse tipo de métrica (cliques) para vender publicidade. Mas esse modelo está caindo a cada dia. Vale mais a credibilidade e a posição da marca, eu acho... 

Li algumas reportagens na Bravo! que são personalizadas de acordo com o leitor, e ao se dirigir a ele, tem até o nome. Alguns outros veículos (poucos deles no Brasil) têm feito isso também, mesmo os que não são tão segmentados quanto a Bravo!. Você acha que isso vai se tornar importante no jornalismo na internet pra criar uma identificação com o leitor ou mesmo pra tornar o conteúdo mais interessante?
Acho que não, tanto que paramos. Acabava sendo ruim de navegar, deixava o site meio lento. Se a produção for tender a criar uma identificação com o leitor, creio que seja pelo conteúdo que é produzido mesmo – linguagem mais jovem se o público for jovem, esse tipo de coisa. Um exemplo é a Vice. 

Quando você vai escrever uma matéria, já tenta imaginar um vídeo, foto ou forma de diagramação para aquele conteúdo? Na Bravo! você escolhe isso ou fica por conta do editor?
Sim, sempre que pensamos numa pauta a ideia (e o ideal) é pensar no melhor formato pra contar a história. Às vezes cabe fazer em vídeo (por exemplo, registrar a produção de um artista plástico), ou podcast (músicas de algum artista), enfim. A questão é que a produção de vídeo demanda mais tempo/é mais cara, então nem sempre é possível fazer. O mesmo com fotos.
Na Bravo! temos um diretor de imagem que costuma cuidar das fotos, principalmente nas reportagens mais longas (os episódios). No Medium, como é uma produção mais de agenda/dia a dia, quem está produzindo fica livre pra escolher, mas acabamos usando muita foto de divulgação. 

No impresso existe a preocupação do tamanho do texto por conta do espaço. Na mídia tradicional na web acaba tendo essa preocupação também porque acredita-se que o leitor não tem interesse ou tempo para ler um texto maior. Mesmo você trabalhando em um lugar que tem essa segmentação, existe preocupação de não fazer um texto muito grande para que seja lido por completo? Ou o importante é a forma como é escrito?
Nos preocupamos muito mais com a forma como é escrito, com o texto estar bacana de ler, ser saboroso, ter informações relevantes, contar uma história. Eu não costumo pensar muito em tamanho – mas sei que é um grande problema das publicações impressas. Quando adaptamos as temporadas para a revista, muitas vezes é preciso cortar. Mas, de toda forma, tem o texto completo no site.

Muitos veículos, inclusive a Bravo!, (mesmo com a versão trimestral impressa) passaram a atuar muito mais ou exclusivamente na internet. Os mais saudosista terão mesmo que aceitar que esse é o futuro do jornalismo?
Nem sei, mas talvez uma tendência seja a de que o material impresso (revista, quem sabe jornal) vire um item de colecionador, como o vinil. Quer dizer: estamos tentando voltar para o impresso, mas não buscando o "furo", mas o prazer de quem gosta de ter uma publicação física, papel, formato da revista, design, etc – e bom conteúdo, claro. 
Respondendo à pergunta dos saudosistas: creio que sim, esse é o futuro do jornalismo de hard news. Já notícias mais perenes (grandes perfis, entrevistas, críticas, coisas que não fiquem muito datadas), podem ter mais espaço em publicações impressas, eu imagino.

Você acha que as características do webjornalismo, de maneira geral, estão sendo exploradas da melhor forma possível? O que ainda falta para atingir um nível de trabalho satisfatório (inclusive quando se fala de limites éticos)?
Bom, vou responder essas falando de webjornalismo, mas creio que poderiam ser ditas em relação ao jornalismo em geral.
Sobre as características do webjornalismo: não estão sendo exploradas da melhor maneira, acho. Mas aqui é uma opinião pessoal/do meu gosto: creio que o jornalismo na internet está pendendo muito mais para esse conteúdo "caça-clique" do que algo mais inovador (que, claro, seria mais caro). Há ótimas exceções (especiais em VR, multimídia do NYT, podcasts da NPR, etc), mas acho que estamos perdendo – até porque pensar em jornalismo hoje é bem difícil, muitos analistas estão comentando que na verdade com essa formação de bolhas nas redes sociais cada um está apenas lendo o que quer... 
O que falta: um confronto dos jornalistas com o modo como se está habituado a fazer o trabalho, talvez. Acho que muito da produção online acaba reproduzindo o pior do que tínhamos no impresso (sensacionalismo, notícias rasas) e não aproveitando as possibilidades. Na minha opinião, falta contestação, falta reflexão sobre o que se produz e sobretudo falta tempo. Como disse um dos jornalistas que trabalha com a gente e que já está no mercado desde os anos 1980: com a chegada dos computadores/internet, se pensava que teria muito mais tempo para produzir, mas na verdade acabamos nos tornando mais "escravos". A produção em um site acaba virando loucura: atualização constante, busca por cliques, correria com redes sociais, falta de "braço" para produzir – estou falando aqui especialmente do hard news. E daí, claro, o trabalho acaba se tornando exaustivo e não prazeroso. 
Não é o caso da Bravo! – até porque optamos por fazer reportagens mais "frias", mais longas, mais aprofundadas, enfim. Mas vejo isso em relação a outros trabalhos que já tive e conversando com amigos. 

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