'Muitas pessoas conhecem meu trabalho e fico feliz por isso', diz DJ Hum*


Neste sábado (25), Maringá recebe uma das lendas da música nacional, principalmente na cena hip hop. Humberto Martins Arruda, o DJ Hum, se apresenta no Tribo’s Bar, às 23 horas, pelo baile 16 Toneladas. É a segunda vez que Hum participa da festa. Em março do ano passado ele também marcou presença.

O DJ é pioneiro na discotecagem brasileira. Começou a fazer os bailes em São Paulo, onde misturava samba rock, hip hop, soul, blues, entre outros gêneros. Ele formou dupla com o rapper Thaíde, até o final dos anos 90, com quem lançou nove discos. Entre as músicas mais conhecidas está “Sr. Tempo Bom”.

O 16 Toneladas é organizado pelo DJ Danilo Donato e seu sócio DJ Estêvão, desde outubro de 2013. Eles também comandam as pick ups nesta noite. Para Danilo, é uma satisfação muito grande receber o DJ Hum. “Ele é um dos meus heróis, um ídolo mesmo para mim, por tudo que ele fez pelo hip hop e pela cultura DJ, então me sinto muito feliz em poder estar no mesmo palco que ele”, diz.

Na passagem pelo Paraná, Hum se apresenta em Londrina e Curitiba. Além do trabalho como DJ, ele, que já venceu o prêmio Multishow, também é produtor e já fez remixes e músicas para artistas como Fernanda Abreu, Roberto Carlos, Milton Nascimento, Racionais MC’s, Marcelo D2, B Negão, entre muitos outros.

Hum promete uma mistura de sons para o show. “Toco desde os sons atuais, até os do início da minha carreira. Rola Jorge Ben, 50 Cent, Thaíde, Tim Maia, rap nacional e claro, minhas produções.” Em entrevista a O Diário, ele falou um pouco sobre a carreira e os planos para o futuro.

Você já esteve no 16 Toneladas, ano passado. Qual sua avaliação sobre tocar aqui e qual a expectativa para a próxima festa?
É uma cena forte. A música que constitui o show não é só o hip hop. Tem o soul, blues, jazz, que são gêneros fundamentais para a formação do hip hop e também tem a música brasileira. Tudo isso se juntou. Hoje, fazendo esses shows, vejo uma visão menos conservadora. Não é mais só uma única tribo, é universal. Quando chego na cidade, tem gente que quer saber do lance do hip hop, as pessoas esperam pra ver os artistas da cultura, mesmo quando só ouviram falar neles. Muitas pessoas conhecem meu trabalho e fico feliz por isso. Inclusive os últimos que fiz, como os com Jota Quest e Anitta.

Como você disse, a visão em relação ao hip hop está menos conservadora. O que mais mudou em relação ao início do movimento nos anos 80 e hoje?
As pessoas não entendiam o que era, tinham preconceito, principalmente pelas origens da música, que era dos guetos, dos negros. Mas o rap, era como o Facebook da época. Os artistas falavam para aquele público específico ali, que entendia, sobre os problemas que eles viviam. Reivindicavam direitos básicos, como luz nos postes, saneamento básico, essas coisas. Ao mesmo tempo também era entretenimento, falava de diversão. Só que era fechado a essa tribo, onde foram criando um muro, por isso teve muita resistência. Mas buscamos espaço e conseguimos atingir os objetivos. Foi uma época em que contávamos com poucos recursos, pouca tecnologia, então foi mais através da força de vontade, de muita pesquisa que conseguimos passar isso.

Além de ser pioneiro nessa cultura, você é um dos maiores ícones do hip hop nacional, servindo de exemplo para quem gosta da música e também para os jovens DJ’s. Como se sente em relação a isso?
A gente se sente muito grato. O mais importante é quando as pessoas reconhecem seu trabalho. Eu fabrico vinil porque têm pessoas que colecionam e gostam. Esse último álbum “O Expresso do Groove”, tem uma tiragem limitada de 500 cópias, para dar continuidade nessa cultura. Sou um cara que faz vinil porque tem um retorno das pessoas, que acham legal e eu gosto dessa troca. A galera que gosta ou é DJ, vem falar sobre isso. E isso é importante pra mim, não só como DJ, mas como músico. Quando comecei, eu tinha em mente que queria ser diferente, fazer coisas diferenciadas, minha audácia me levou para esse lado. Eu sou da época em que para você se comunicar, tinha que pegar o telefone mesmo, ou passar SMS. A tecnologia não nasceu ali com a gente, tive que desbravar e conseguir passar por isso. Hoje, faço workshops, palestras, sobre direitos autorais, como produzir, editar, começar no ramo. Agora, é preciso saber sobre as plataformas digitais para buscar reconhecimento através da música. Antes era tudo muito caro, difícil, demorado. Por isso me sinto fortalecido nessa caminhada, abracei os desafios e agradeço a Deus por isso.

O que o público pode esperar desse disco?
Com esse lance do disco, eu, que sou produtor, sempre vejo meu começo ali. É um disco que resgata a cultura de baile, com gêneros que me influenciaram, como o samba rock, groove, hip hop, soul. Vai ter a versão digital também, mas se fosse só isso, não estaria completo, porque as pessoas da minha geração, os colecionadores, mesmo tendo acesso assim, gostam de ter o vinil. No meu show eu faço essa mistura de ritmos também. Toco desde os sons atuais, até os do início da minha carreira. Rola Jorge Ben, 50 Cent, Thaíde, Tim Maia, rap nacional e claro, minhas produções. Tento fazer um som atemporal, como um bom filme de ação, que tem os momentos de explosão, os momentos românticos, tudo.

Você disse que toca músicas da época em que fazia dupla com Thaíde. O que mais mudou na sua carreira desde a separação?
Lógico que quando você constrói uma parceria de sucesso e acontece a separação, o mundo ao seu redor muda completamente. Mas é preciso buscar um novo horizonte, uma nova história, as coisas são assim mesmo. Isso serve para aprender coisas novas, se aperfeiçoar, fazer outros trabalhos, como fiz a música “Senhorita”, que foi um sucesso. Mas em dezembro do ano passado fizemos um show juntos, depois de quinze anos, foi muito legal, emocionante. E sempre nos encontramos.

E além dos projetos dos discos de vinil, quais os planos para o futuro?
Estou buscando financiamento e pessoas competentes para fazer um livro. O conteúdo eu já tenho. Quero contar o início dos bailes, como começou tudo. Não quero apenas contar a história, mas colocar muitas fotos. Mas preciso de pessoas para esse projeto, para ter uma boa diagramação e tudo que o livro precisa. Esse projeto é para registrar essa história e passar esse conhecimento, para que não se deturpe com o tempo. Mesmo sendo humilde e morador da periferia, eu sempre sonhei em ser quem eu sou, e é bom quando alguém daquela época diz “Nossa, que loucura, você conseguiu, hein?”. Enfim, já esperei muito por esse projeto. Quero que os jovens compreendam essa cultura. Não só a música, mas todo o universo, as pessoas que participaram e o movimento.

*Publicado originalmente em O Diário do Norte do Paraná.

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