Entrevista com Ricciardi

Luigi Ricciardi é o nome literário de Luís Cláudio Ferreira da Silva, 33 anos, professor e autor dos livros Anacronismo Moderno (2011) e Notícias do Submundo (2014).

Ele adotou esse nome em homenagem ao bisavô Alfonso Ricciardi, que veio da Toscana para o Brasil, em 1897. Isso, antes da publicação do primeiro livro. “Assim, decidi italianizar também o Luís, virando Luigi”, diz.

A escrita sempre foi uma atividade prazerosa para Luigi. Ele conta que desde que começou a alfabetização já gostava de escrever. Porém, a aventura pela literatura veio quando já estava na faculdade, ao escrever sobre a história de amor malfadada de uma amiga.

Hoje, os contos de Luigi são cheios de ironia, críticas à sociedade e tratam de temas como vida, morte e amor. Para ele, é essencial que o artista reflita sobre a sociedade em que vive. Além disso, o lirismo contido em cada linha que escreve é capaz de encantar o leitor. Estão bem longe de “apenas alguns contos bestas”, como sugere o título de um deles. Em entrevista ao Jornal Matéria Prima ele conta um pouco sobre o desafio de ser escritor.

As histórias que você retrata em seus contos têm críticas fortes à sociedade e grande uso de tom poético, porém, não é o tipo de livro que a maioria das pessoas gosta ler. Os romances superficiais, apenas para entretenimento, dominam a preferência dos leitores. Quais as dificuldades de escrever sabendo disso? E como você avalia o cenário atual da literatura brasileira?
Refletir sobre a sociedade na qual se vive, é tarefa de qualquer verdadeiro artista que se preze, que queira destoar da imagem cristalizada de artista da Globo. Não consigo escrever se não falar das estruturas que me cercam, envolvem. Para encarar a escrita longe dos holofotes é preciso ter colhões. Entretenimento faz parte, mas uma arte que está completamente regida pelas leis de mercado acaba se tornando mais um produto de vitrine com obsolescência programada. Apesar da força da “arte banalizada”, acredito que a literatura nacional passa por uma de suas fases mais produtivas, quiçá a mais, em quantidade e pluralidade.

Que autores você mais lê e quais deles mais influenciaram sua escrita?
É dificílimo analisar a própria escrita procurando resquícios dos próprios ídolos. Mas de fato a gente acaba indo na onda daqueles que a gente mais gosta quando começa a escrever. Comigo talvez tenha sido uma proximidade com José Saramago, Charles Bukowski, Clarice Lispector, Jack Kerouac, Gabriel García Márquez. Mas acho que tenho pouco deles. Talvez o lirismo clariciano na narrativa, a romantização mochileira kerouaquiana, ou até mesmo a acidez bukowskiana. Mas minha obra é mesmo ricciardiana.

Seus dois livros são de contos. Pensa em publicar ou tem idéias para um romance?
Tenho um romance inédito que foi finalista do prêmio Sesc do ano passado, porém, não sei o que vai ser dele. Mas escrever romances é uma meta.

Já tem outros projetos em andamento?
Talvez um livro inédito de contos saia ainda este ano. Ideias vão sendo anotadas assim que aparecem. Se haverá algum processo de transubstanciação aí é com o tempo.

É muito exigente consigo mesmo? Mesmo com as críticas favoráveis e os prêmios ganhos você ainda acha que tem muito a melhorar como escritor?
Não ganhei nada de grande proporção, fui incluído em uma antologia e ganhei um concurso regional. Acho que sou exigente, mas a coisa não pode ser tão grande que atrapalhe o momento certo de fechar a obra. Mas isso varia muito. Tenho uma história que escrevo há nove anos e ainda não passa de um rascunho melhorado. Há outros contos que já saem maduros na primeira ou segunda tentativa. A literatura é relativa.

***

Um pouco mais sobre o escritor
Luigi Ricciardi nasceu em Londrina (distante 100 km) mas mora em Maringá desde o fim dos anos 80. É formado em Letras (português/francês) e tem mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). No momento, é doutorando, também em Estudos Literários, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Em 2009 venceu um concurso nacional com o texto “Dança das Máscaras” e teve o conto “Brigadeiro” e o poema “Vida Oblíqua” selecionados entre os melhores textos do ano. Foi finalista do Prêmio Sesc de Literatura no ano passado e no mesmo ano fez parte de uma antologia poética da Biblioteca Pública do Paraná.

*Publicado inicialmente no jornal Matéria Prima

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